Matilda é uma mulher de meia idade que mora
com a mãe. Tem um trabalho simples e mal remunerado. Dividir os custos da vida
com a mãe não está nada fácil, embora não seja disso que Matilda reclame.
Certa noite, ao chegar do trabalho, anuncia à
mãe que tem um encontro. A mãe a olha com certo ar de desdém, mas nada fala. Ao
sair do quarto, arrumada e pronta para sair, a mãe dispara:
- E quem é o fracassado com quem você vai se
encontrar hoje?
Matilda engole com força o que lhe é dito, e
não reage. Olha calada para baixo, parece aceitar o destino do sujeito pela
boca da mãe. A mãe a repreende pela roupa que está usando:
-
Você precisa usar roupas mais largas. Essa gordura na lateral está saliente.
Já
no bar, Matilda toma sozinha sua água com gás e uma fatia de limão.
Aquele não era o único encontro que Matilda
anunciaria e tampouco seria com o mesmo homem. A cada um dos anúncios à mãe
sobre seus encontros, esta disparava uma séria de recriminações. Poderia ser a
respeito do homem com quem Matilda sairia, que a mãe não conhecia, bem como poderia
ser sobre a roupa que Matilda usava, que estaria muito recatada ou muito
vulgar. Algum detalhe sempre era alvo da mãe, que não poupava Matilda de sua
sinceridade feroz. Matilda aceitava calada. E nos bares, enquanto bebia sozinha
sua água com gás e uma fatia de limão, pensava nos motivos pelos quais sua mãe
a recriminava.
Em uma dessas noites de encontro, Matilda, já
arrumada e prestes a sair, vai ao encontro da mãe e diz que vai sair com
alguém. Há um tom mais desafiador na voz de Matilda. Sua mãe a olha e, sem
nenhum traço de desdém ou ironia, afirma:
- Nossa, minha filha, essa roupa ficou ótima
em você! Você está mesmo linda hoje!
Ainda vestida, Matilda dirige-se à cozinha e
enquanto prepara um café para as duas, tira um pedaço de carne de frango
congelado, coloca-o no micro-ondas e abre o pacote de arroz. Irá preparar um
risoto.
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